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Na bacia amazônica vivem estimadamente três mil espécies diferentes de peixes. Somente no rio Madeira, que nasce nos Andes e percorre mais de três mil quilômetros até a foz do rio Amazonas, vivem cerca de mil espécies. Tamanha riqueza faz do Madeira o rio, entre os já estudados, com a maior biodiversidade de peixes do planeta. O entendimento do rio e de suas diferentes manifestações de vida foi o passo inicial da nossa jornada. Sempre perseguimos o propósito de construir uma usina com o menor impacto possível; e gerar energia limpa, renovável, sustentável.
Coletânea
Confira os livros da coletânea Peixes do Rio Madeira.
Sobre o Projeto
Veja abaixo mais informações sobre a história do projeto e as pessoas envolvidas nele.
Há pouco mais um século, foram registrados os primeiros relatos científicos sobre a ictiofauna da bacia do rio Madeira. Dois naturalistas austríacos, Johann Heckel em 1840 e Rudolf Kner em 1853, descreveram diversas espécies da região, e suas descrições só foram possíveis graças aos exemplares capturados em 1817, por outro naturalista austríaco, Johann Natterer, nomeado o principal zoólogo de uma expedição ao Brasil, composta por outros naturalistas importantes, como Johann Baptist von Spix e Carl Friedrich Philipp von Martius e financiada pelo Imperador da Áustria, Francisco I.
Meio século mais tarde, o naturalista alemão Franz Keller veio ao Brasil para reconhecimento geográfico da região Norte e projeção da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré (EFMM).
Keller registrou informações importantes sobre a hidrografia da região, os habitantes, a vegetação, os produtos e outros tópicos de interesse. Em 1874 publicou um livro intitulado Amazon and Madeira Rivers, dedicando um capítulo inteiro a descrever o rio Madeira e a pesca feita por nativos. Apresentou, em gravuras, espécies de arraia (Potamotrygon motoro), tambaqui ou pirapitinga (Colossoma macropomum ou Piaractus brachypomus), peixe-cachorro (Rhaphiodon vulpinus), jaú (bagre pimelodídeo) e pirarucu (Arapaima gigas).
A primeira lista contendo uma relação de espécies de peixes registrada para o rio Madeira foi compilada pelo americano Henry Fowler em 1913.
No século XX, continuaram as anotações e observações, incluindo a descrição e avaliação da importância da floresta alagável na ecologia dos peixes, feitas nos rios Jamari e Machado, afluentes do rio Madeira.
Na década de 1980, uma aliança entre Bolívia e França (CORDEBENI-ORSTOM-UTM) estimulou um intenso avanço na pesquisa sobre a ictiofauna do rio Mamoré, em território boliviano. Como resultado, produziram um catálogo sobre os peixes da bacia do Mamoré, e uma lista de 280 espécies. O refinamento taxonômico destas espécies foi sendo realizado continuamente, e em 1991, Lauzanne e colaboradores publicaram um inventário mais completo incluindo quase 400 espécies. Diversos trabalhos de pesquisas adentraram o século XXI, e de acordo com as publicações, foram várias listas e a contagem na Bacia do Rio Madeira chegou a 448 espécies para a ictiofauna.
Mais recentemente, as propostas de monitoramento ambiental do rio Madeira como exigência dos órgãos licenciadores para viabilizar as duas usinas hidrelétricas em construção, criaram a oportunidade de aprofundar estudos sobre a ictiofauna no rio Madeira.
Paralelamente foram realizadas coletas em um trecho compreendendo aproximadamente 2500 km, desde o rio Guaporé até a foz do rio Madeira, executada com o apoio da Santo Antônio Energia. Os estudos desenvolvidos pelo Laboratório de Ictiologia e Pesca da Universidade Federal de Rondônia (LIP/UNIR) em parceria com várias instituições, mas principalmente com o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e Universidade Federal do Amazonas (UFAM). Os resultados dos últimos eventos de coletas realizados pelo LIP/UNIR, em setembro/2012 foram surpreendentes, e registraram uma fauna composta por 920 espécies somente em território brasileiro.
Sob o ponto de vista continental, a riqueza atualmente conhecida para o rio Madeira se equipara ao número de espécies conhecidas para toda a Europa,
Oceania e Rússia juntas. Baseado nos valores atualmente conhecidos para a ictiofauna de toda a América do Sul (quase 4050 espécies), a fauna de peixes do rio Madeira parece contemplar, ainda que não exclusivamente, quase 20% de todas as espécies de peixes atualmente conhecidas para o continente.
Em 2001, iniciaram os primeiros estudos para a implantação do complexo hidrelétrico do rio Madeira, e pouco se conhecia sobre as características deste ambiente que há milhares de anos sustenta a vida na Amazônia – um território mítico e exuberante, que circunda com mais de quatro milhões de km² a área onde está hoje a Usina Hidrelétrica Santo Antônio.
A cada ano, uma vasta coleção de levantamentos técnicos, comparação de dados e pesquisas ambientais expandem as fronteiras do conhecimento sobre a fauna, a flora e as populações ribeirinhas da região. Os costumes tradicionais das comunidades que sobrevivem especialmente do plantio e da pesca nos revelaram o conhecimento que garante a perpetuação das espécies.
Compreender os peixes do rio Madeira foi um dos grandes desafios às melhores práticas de sustentabilidade. Além de proteger as espécies, é preciso assegurar que a pesca mantenha a atividade econômica de boa parte da população.
Para construir a usina, fizemos um trabalho inédito: entrelaçar o conhecimento científico com a sabedoria da população local. Esta cultura enraizada no povo, passada por gerações em centenas de anos, trouxe revelações extraordinárias, e foi o ponto de partida para a construção do conhecimento formal. Identificamos peixes que até então eram desconhecidos.
Na bacia amazônica vivem estimadamente três mil espécies diferentes de peixes. Somente no rio Madeira, que nasce nos Andes e percorre mais de três mil quilômetros até a foz do rio Amazonas, vivem cerca de mil espécies. Tamanha riqueza faz do Madeira o rio, entre os já estudados, com a maior biodiversidade de peixes do planeta. O entendimento do rio e de suas diferentes manifestações de vida foi o passo inicial da nossa jornada. Sempre perseguimos o propósito de construir uma usina com o menor impacto possível; e gerar energia limpa, renovável, sustentável.
O rio Madeira tem uma vazão de mais de 40 milhões de litros de água por segundo no período chuvoso. Milhares de peixes, ao subir o rio, enfrentam a correnteza na época da piracema. Ovos e larvas flutuam na superfície a partir dos Andes, por até milhares de quilômetros. Depois da eclosão e do desenvolvimento dos cardumes, os peixes migram no sentido contrário para cumprir o ciclo reprodutivo: desovar nas cabeceiras dos afluentes do Madeira, no Brasil, Bolívia e Peru.
Com o fim das cachoeiras de Santo Antônio e Teotônio, era preciso criar um sistema seminatural para reproduzir as corredeiras originais, que incentivasse os peixes a manterem seu fluxo rio acima e permitisse sua passagem pela Usina. Com este propósito, foi projetado e construído o Sistema de Transposição de Peixes. Integrado à usina, está um canal engenhoso com 900 metros de comprimento por 10 metros de largura.
A Santo Antônio Energia foi muito além das compensações ambientais. Estabeleceu compromissos de longo prazo, trazendo resultados tangíveis e relevantes para os recursos ambientais e os meios acadêmicos. Esta parceira, que incentivou a formação de jovens cientistas e o aperfeiçoamento profissional de pesquisadores, aliando conhecimento científico às soluções ambientais, reforça uma importante premissa: é preciso conhecer para preservar. Além do aporte financeiro, que deu origem a um centro de estudos em Porto Velho com laboratórios e pesquisas contínuas, há o investimento no capital humano: centenas de pessoas dedicadas a produzir conhecimento – legado para o país e para o mundo, referência em preservação e fonte de riqueza ao patrimônio científico.
A contribuição acadêmica e científica deste trabalho pode ser tão extensa quanto as mais de mil páginas do livro/site que reúnem as espécies do rio Madeira: cerca de 40 delas desconhecidas antes do início das obras da Usina. Demonstramos, em alguns casos e pela primeira vez, as imagens das espécies que povoam este fascinante rio de águas turvas, sobrecarregadas de sedimentos e nutrientes; fio condutor da vida na região, em todas as suas possibilidades.
Com esses e outros princípios, fundamentamos a realização de um dos mais importantes empreendimentos energéticos para o país. E interagimos para a coexistência equilibrada do homem com a natureza; em Porto Velho, no rio Madeira e no coração da Amazônia.
A bacia do rio Madeira cobre uma área de 1.380.000 km² e ocupa uma extensão duas vezes superior a qualquer outra bacia na Amazônia. A complexidade dessa bacia se dá por suas distintas origens: os rios Mamoré e Beni, drenam os Andes bolivianos, e o rio Madre de Dios, que drena os Andes peruanos; o rio Guaporé, cujos formadores se localizam em terras brasileiras e; a parte baixa que percorre as terras rebaixadas da bacia sedimentar, onde se concentram as várzeas do rio Madeira.
O trecho encachoeirado total abrange cerca de 405 km, dos quais 290 em território brasileiro. A jusante das corredeiras, o rio Madeira diminui a velocidade de suas águas e aumenta gradativamente sua largura e o depósito de sedimentos nas planícies inundáveis, tornando-se facilmente navegável.
O pulso de inundação do rio Madeira é regulado pelo degelo andino e índice pluviométrico da região. O período de chuvas inicia-se em outubro, prolongando-se eventualmente até junho, sendo janeiro a março, o período mais chuvoso e conhecido como inverno amazônico. A vazante do rio se inicia em maio e a baixa vazão estende-se até novembro.
Delimitação Geográfica da Área de Estudo
Desde 2008, amostragens periódicas têm sido realizadas para estudar quase todo o eixo brasileiro do sistema Guaporé–Mamoré–Madeira, incluindo vários afluentes e lagos. O recorte geográfico dado a esta publicação foi o eixo formado unicamente por águas brancas, no transecto Mamoré–Madeira, excluindo-se, portanto, o eixo do rio Guaporé e seus afluentes. Em função do importante efeito das corredeiras do rio Madeira sobre a ictiofauna da bacia, sobretudo, da Cachoeira do Teotônio, a cachoeira foi utilizada como referencial geográfico para delimitação e categorização do trecho em áreas.
Para tratar resumidamente da distribuição de cada espécie, o sistema Mamoré–Madeira foi dividido em quatro grandes áreas:
Área 1 — as planícies de inundação do rio Mamoré: Localizadas no rio Mamoré, a montante do trecho de corredeiras. Trata-se de uma porção que permite que extensas áreas de várzea sejam alagadas periodicamente. Os afluentes apresentam grau de preservação mais elevado quando comparado aos trechos a jusante das corredeiras. Os rios amostrados nessa área são: Rio Sotério e o Rio Pacaás Novos.
Área 2 — o trecho de corredeiras do rio Madeira: Localizadas a partir da primeira corredeira Guajará-Mirim, e vai até a Cachoeira do Teotônio. As cachoeiras de Jirau e Teotônio se destacam pelo porte e velocidade das águas. O rio Madeira exibe barrancos de até 15 metros de altura. Os afluentes amostrados foram: Igarapé Araras; Rio Abunã; Rio Mutumparaná; Rio São Lourenço; Igarapé Karipunas; Rio Jaciparaná e o Igarapé Caracol.
Área 3 — planícies alagáveis do médio Madeira: Localizadas na jusante da Cachoeira do Teotônio até o lago Puruzinho, a montante do rio Marmelos. Os afluentes amostrados foram: Igarapé Jatuarana; Igarapé Jatuarana II; Igarapé Belmont; Lago Cuniã; Rio Machado e o Lago Puruzinho.
Área 4 — planícies de inundação do baixo Madeira: Localizadas a partir do trecho do rio Madeira que sofreu migração importante do canal durante o quaternário, cuja planície inundável assemelha-se às várzeas da Amazônia central. Os afluentes amostrados foram: Rio Marmelos; Rio Manicoré; Rio Aripuanã e o Lago Sampaio.
Métodos de Captura
As amostragens da ictiofauna envolveram esforços padronizados ao longo de todo o trecho do Mamoré-Madeira. As coletas utilizaram diversos Apetrechos de coletas, sempre adaptados aos tipos de ambientes disponíveis em cada ponto: i) rede de espera expostas nas margens dos afluentes e lagos; ii) rede de cerco aplicada sobretudo em praias de areia; iii) arrasto bentônico; iv) puçá empregado para amostragens em microhabitats; v) tarrafa para coletas em áreas abertas; vi) espinhel para captura de peixes de grande porte.
Identificação das espécies
Todos os exemplares capturados foram identificados até o menor nível taxonômico possível. Todo o material foi revisado por famílias ou subfamílias.
Estrutura dos capítulos
A classificação taxonômica é baseada no Check List of the Freshwater Fishes of South and Central America – CLOFFSCA, para famílias e subfamílias. Os capítulos foram escritos por um ou mais especialistas. São providos de uma introdução geral, na qual cada autor ou grupo de autores apresentam um estado da arte do agrupamento taxonômico, abordando quase sempre aspectos da distribuição geográfica, taxonomia, sistemática e ecologia. Na sequência, as espécies, coletadas pelo LIP/UNIR, são listadas com informações detalhadas:
– Nome da espécie e autoridade taxonômica
– Localidade-tipo
– Comprimento máximo
– Distribuição
– Lote disponível
– Apetrecho de coleta
– Comentários e referências
Cada espécie é ilustrada com uma fotografia colorida e figuras anatômicas ilustrativas. Uma chave de identificação dicotômica é apresentada para todas as espécies listadas no capítulo. Adicionalmente, algumas espécies que são conhecidas para o trecho estudado do rio Madeira, e não foram contempladas nesta publicação, ou que foram amostradas unicamente no transecto do rio Guaporé, também foram incorporadas às chaves, de forma a prover maior completude do conteúdo.
Direção Editorial:
Vito D’alessio;
Edição e Arte:
Leopoldo Silva Jr.;
Fotografia Institucional:
Renato Dutra;
Direção de Arte:
Luis Scarabel Jr.;
Produção:
Maurício Falcão;
Assistente de Direção:
Angela Nadalucci
Coordenador do Meio Biótico:
Aloísio Ferreira;
Web-site e Aplicativos:
Fábio Rendelucci;
Organizadores:
Luiz Jardim de Queiroz;
Gislene Torrente-Vilara;
Willian Massaharu Ohara;
Tiago Henrique da Silva Pires;
Jansen Zuanon;
Carolina R. da Costa Dória;
Fotografia das Espécies:
Tiago H. S. Pires;
Bruno S. Barros;
André Galuch;
Instituições:
UNIR – Universidade Federal de Rondônia;
INPA – Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia;
IEPAGRO – Instituto de Estudos e Pesquisas Agroambientais e Organizações Sustentáveis;
UFAM – Universidade Federal do Amazonas;